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... e o tempo não passa...
... e aquele teu “labor torpor”,
lapidar poema-código, rigor, xadrez, branco no preto, prisco rabisco
no branco, risco pregnante, traço atro no alvo; claro, na mosca!...
(1964)
... a mulher perolada & variolada, (ou)viu – desvario
purpurino – estrelas anãs, micróbias, contraiu a febre
do vil metal, virou mercadoria, enfeitou-se, fel, definhou; antimusa,
muda eloqüente...
Duas figuras (a segunda e a última) extraídas
da seqüência que compõe o poema “mulher de pérolas”,
de Ronaldo Azeredo (1971).
... e o “poema da célula”: filamentos,
focos infectos, espectros, biomorfos avant la lettre, plâncton plangente;
finalizando-se de forma singular: meteoro minado, amofinado, monólito
enfermo (finado?); nada...
Imagem final e texto do autor, em livro sem título
(1972), costumeiramente referido como “poema da célula”.
...”automação-paisagem”, outro
biopoema, transdialético, dinâmico, auto-organizativo, pulsante
e preciso, imagem banindo palavra, bradando desenlace luzente, sem morfemas;
no comments...
Duas páginas (quarta e última) de “automação-paisagem”,
poema sem palavras de Ronaldo Azeredo (1973).
... e o teu notável “pensamento impresso”,
pranchas para alternar, ao acaso (“dedico a Mallarmé”),
dados em re-lance, chance & (como disseste) “a descoberta do sentimento
de eternidade”; serigrafia do Fiaminghi, partitura do Gilberto Mendes, “de
l’amour et de la mer”; hólos: arco-íris, gotejando
energia, no mar, allegro, azul, ideogramas-flores, vermelho, molto
appassionato; “embaralhe
as pranchas e leia”...
Prancha
de “pensamento impresso” (1974), no original em cor branca sobre
papel vegetal.
... ah! as “panagens”, cartões com tecidos,
a Amedea artefinalizou, 50 exemplares artesanais, “Alfredo Volpi tornou
possível esta edição” (assim como todas as da
década de 70); metamorfoses: borboleta, pulmão, morcego, e
uma única palavra: “arfar”, com o “f” convertido
em ícone alado, borbolet(r)eando no azul do dia, vampirizando-se à noite,
o tal “f”; fatal...
(1975)
... “enquanto
durou”, teu primeiro trabalho dos anos 80; flores recém-colhidas,
brilho multicor, flores encaixilhadas na caligrafia caprichada da expressão “enquanto
durou”, descem depois, já murchas, ao rés-da-página,
grudadas ao esquife escrito, tenaz, das palavras; que perduram...
(1984)
... “e
o tempo não passa”...
... 2002: “lá bis os dois”,
livro-poema de amor, tática do tato, afago, carícias secretas,
fogo; vida...
Página inicial do livro “lá bis os dois” (2002),
com sugestões de leitura do autor.
... burburinho de bar, “Léo
da Aurora”, calor, paradoxal tarde dourada em Sampa, mais uma rodada
de chope, schnaps, canapés “blumenau”, Ronaldo, Herrmann,
Fiaminghi, Sacilotto, e mesas vizinhas, coladas, conversas cruzadas: países,
petiscos, pintura, poesia, putaria; calado, sorriso complacente, serenidade
zen, Ronaldo; leitmotiv mental: a obra, a idéia poética; no
céu, no mar, no rio, na rua, no olhar da Greta Garbo, na cama da
bonequinha duchampiana; sol, sonho; velocidade, e o tempo não passa...
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Roland Azeredo Campos é físico teórico, poeta e ensaista.
Publicou Arteciência - Afluência de Signos Co-Moventes (São
Paulo: Perspectiva, 2003).
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