Statue of Victory – profilograma
Augusto de Campos


NOTORIOUS VICTORIA (uncensored), como está na biografia de Mary Gabriel. Id est: Victoria Claflin Woodhull (1838-1927), referida mais de uma vez por Sousândrade no “Inferno de Wall Street” – a primeira mulher a se candidatar à presidência dos EUA, pelo Equal Rights Party, nas eleições de 1872, vencidas pelo general Grant & gang.

Seu companheiro de chapa, candidato a Vice-Presidente, era um negro, Frederick Douglass. No dia da eleição Victoria estava presa, com marido e irmã, sob falsas acusações de obscenidade, por haverem revelado em seu jornal as estrepolias amorosas do Reverendo Beecher com uma paroquiana e as gabolices de um bandalho especulador da Bolsa & da companhia de meninas por ele seduzidas.

BASTA?

Procurem na Internet, q é melhor do q qualquer enciclopédia. Vidente, visionária, “stockbroker”, jornalista, “freelover”, espiritualista & “comunista”. Como pôde essa fabulosa mulher ser tão pouco lembrada? Claro q me emocionei com a vitória de AMABO OBAMA (pensei q tinha descoberto o palíndromo, mas os internautas estão ficando mto espertos e a rede já tem até discussões sobre a correção da palavra latina).

É uma vitória histórica.

MAS não se compara à história de Victoria. A vitória foi dela. Fosse eu o presidente americano, proporia que devolvessem aos franceses, com agradecimentos e excusas, a cabeça da Estátua da Liberdade, substituindo-a pela cabeça da grande e bela Victoria. Podiam até mudar o nome do monumento para Statue of Victory, já que a sua indicação para presidente partiu de Nova York.

O jornal “Woodhull & Claflin Weekly” publicou em 1871, pela primeira vez nos EUA, a tradução inglesa do Manifesto do Partido Comunista dos “soul's brothers” Marx & Engels.

Até Susan B. Anthony, arquidefensora dos direitos da mulher, acabou se afastando da resplandescente Victoria e de sua irmã Tennesse (Tennie) Celeste Claflin (1844-1923), por achá-las radicais demais. A “vitoriana” Anthony defendia estratégias mais suasórias, concentrando-se em questões pontuais, principalmente o direito de voto. Usava o cabelo repartido ao meio e puxado para trás, numa cara enfezada, enquanto a linda “colonel” Tennie (Tennessee) portava um topete pré-amywinehousiano e era cortejada pelo milionário Vanderbilt.

Pound ignora Victoria. Gertrude Stein prefere Susie.

MORFOGRAMA: SUSIE & TENNIE
(clique na imagem para ver)

"Colonel"? Sim, Tennie, a irmã mais nova de Victoria, sua companheira de lutas, a ainda mais bonita que Vic, era Coronel. Em 1872, foi eleita “honorary Colonel” de um Regimento de veteranos negros da Guerra da Secessão.

As Claflin foram várias vezes presas pelas denúncias de abusos sexuais de potentados e do “caso” adulterino do Henry Ward Beecher – o mais famoso pastor protestante dos States – com a sua paroquiana, mulher do jornalista Theodore Tilton. Tentaram induzí-las à ruína forçando-as a pagar altas somas a título de fiança, para poderem ser libertadas dos encarceramentos (e mesmo assim não escaparam das “Tombs”, uma das mais inóspitas prisões de New York City). Perseguidas tenazmente pelos jornais, a comunidade religiosa e conservadora. E pela irmã de Beecher, a famosa Harry Beecher (Cabana do Pai Tomaz) Stowe. Tendo denunciado Byron por seu "affair" com a meia-irmã, viu o “caso” do reverendo-irmão desabar sobre a própria cabeça, que ela perdia logo, quando se referia às Sisters como “witches”, “obscene birds” ou “jailbirds”… É a “mana cigana” de que fala Sousândrade na obra-prima da língua portuGUESA – O inferno de Wall Street.

Os jornais sensacionalistas de NY, como o “The Sun” e o “New York Herald”, não se cansavam de perseguir e desqualificar as Claflin Sisters. Um cartunista caricaturou as “lady brokers” ao lado dos especuladores – os “bulls” e “bears” de Wall Street – porque ousaram ser as primeiras mulheres a fundar uma agência de corretores da Bolsa – a Woodhull, Claflin & Co – para mostrar que as mulheres também podiam ser “homens de negócios” em vez de costurar e rezar, enquanto os maridos iam beber e farrear.

Um outro cartunista, do “Evening Telgram” (1870), mostrava as “Wall Street Sisters", de chicote na mão, tangendo os epeculadores que puxavam a sua caleche.

E até Thomas Nast, o famoso caricaturista do "Harper's Weekly”, celebrizado pelos desenhos com que fustigou o "boss” Tweed, um dos maiores corruptos de alta finança da história dos States – preso, fugido, extraditado e encarecerado pelo resto da vida em Sing Sing –, foi também capaz de cartunizar Victoria como “MRS. SATAN”.

E dizer que Victoria era contemporânea da minha querida e genial Emily Dickinson (1830-1886), a reclusa de Amherst, Massachusetts. Instaladas em NY, as irmãs Claflin, Victoria e Tennie, logo foram estigmatizadas como “dissolutas”, no mínimo, e “prostitutas", no máximo. E reagiam com incrível bravura. Poor Emily, tão virginal e virtuosa: só porque encontraram meia-dúzia de meias-cartas – passionais, é verdade (“Incarcerate me in yourself”!) — salvas da prudente queima familiar, já asseguram que ela teve relações mais do que metafísicas com o meritíssimo juiz Otis Phillips Lord. Sincronicidades. Em 1874 ele foi juíz do caso Beecher-Tilton, no qual o celebrado pastor protestante era acusado de adultério com a esposa de Tilton. Lord teria tentado predispor os jurados contra Beecher, entrando em conflito com as autoridades judiciárias. Apesar disso foi eleito para a Suprema Corte no ano seguinte. É o que diz, de passagem, David Wooldridge, em seu livro “Charles Ives – A Portrait”, por um “commodius vicus de recirculação". O resto, na Internet, que arrasa, contendo até uma transcrição dos autos do processo.

SOUSÂNDRADE, estrofes 11, 12, 93, 125, 127, 128 do Inferno de Wall Street. Victoria e “Colonel”.

“Estou comendo as pedras da Vitória” (dizia o poeta). Já muito velho, reduzido à pobreza, vaiado pelos moleques de rua, vendia as pedras dos muros da sua Quinta da “Vitória”, para não passar fome. Hoje, fênix-renascido, revisita a sua NY nas páginas do recém-lançado 3º vol. de “Poems for the Millenium III”, a famosa antologia organizada por Jerome Rothenberg & Pierre Jory. O “Inferno de Wall Sreet” volta em boomerang , no momento em que a Bolsa reedita a sexta-feira negra de 18 de setembro (mês aziago para a Terra do Tio Sam) de 1873, quando, segundo Mary Gabriel (opus acima), os jornas anunciavam “The Finnancial Crash, The Money World Shaken from Centre to Circumference.”

SOUSÂNDRADE. Nunca esteve tão atual, apesar da sabotagem de críticos e professores universitários que ainda o excluem dos seus currículos. “Tó pra vocês, chupins desmemoriados!” (Decius dixit)

Estes fragmentos, ao sabor dos ventos, para despertar a bem-vinda “curiosity, curiosity” (conselho de EP) de poetas & others. “Variorum” nos vários sites da WWW. E na notável bio NOTORIOUS VICTORY, sem censura. VIVA MARY [Gabriel]. SAVE THE NEW AMERYKAH [Erykah Badu]. Vice-candidata, em tempos de Obama, a ter a sua bela freakquency-head "restatued” no lugar da tradicional.

HINO AMERYKAHNO DA VITÓRIA
(clique na imagem para ouvir)

Sousândrade, Emily e Erykah vão por minha conta.

A ESTÁTUA DA VITÓRIA
é poesia sem palavras.



Nota: Augusto de Campos agradece especialmente a André Vallias os
“improvements” em suas “destátuas", a concretização do Morfograma
Susie & Tennie
e a dica do canção "Victory of Victoria" da campanha
presidencial de 1872. E a Cid Campos a remixcomposição do Hino Amerykahno da Vitória.
Subnota: Mrs. & Mr. Grundy – nome fictício dado às pessoas
conservadoras.